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Cardilium

Cardilium

Carreiro

Acendo um cigarro no caminho a que chamam carreiro das cobras. Não sei se alguma vez o sol o visitou. Caminho sombreiro doado aos amantes e com tecto feito de velhos e imponentes carvalhos. As paredes são silvados que dividem um ribeiro que passa mais em baixo. Quando miúdo atravessa num desafio e aventura este carreiro que me levava à escola. Entrava na escola com a sensação de vitória, de ter enfrentado o medo da sua passagem. Era espirituoso sentir isto ás oito e meia da manhã. Sentia-me um pequeno herói enfrentando o medo de ir pelo caminho que os meus pais me diziam para não fazer. O medo é do nosso tamanho, vai crescendo connosco. Em contrapartida as vitorias vão diminuindo em dimensão. O cheiro mantém-se, o enlameado do Inverno também. É uma pequena floresta de cinquenta metros que aos meus olhos parecia um mundo. Gostar sem conhecimento é paixão e paixão com conhecimento é amor. Também se amam pedaços de bocados de nós, de florestas e mares, de nuvens e por do sol, de céu e lua. Aquele abraço não dado com o tempo, torna-se num abraço entregue e lícito. Os meus pensamentos eram, são e hão-de ser exacerbados pelo medo. O medo move-me. Faz-me sonhar e acreditar. E medo e as vitorias conquistados ao temor.