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Cardilium

Cardilium

Olho-te com tamanha cegueira que cego em ver outro alguém

Olho-te com tamanha cegueira que cego em ver outro alguém. Desassombro este, excluído de mim. Transformas as cores em sabores e os sabores em cores. As certezas em incertezas e as incertezas em espera. Uma espera agonizada de um momento por encontrar. Espero-te. Não sossego enquanto não te vir dobrar a esquina em silhueta. A noite traís-te e o dia assumiste. Encontro-me chorando e vertendo lágrimas que só tu podes secar. Prendes-me a respiração e sinto tonturas, o teu cheiro tira-me esta ressaca, como se a privação de um químico tu revolvesses. Preciso que me enchas o peito de ti. Que me percorras o coração e me lambas a alma. Preciso de voltar a ver e a ser dono de mim. Penhoras-me os sentidos e num leilão anuncias a minha existência. Vivo o teu viver e falece a minha existência na tua. És feita de uma rebelião dura e rude e patética em mim. A frequência com que me invades é desumana e servil. Vou tomar um ácido que me faça mentir e voltar a ver rosa o mundo. Não tenho vestígios de ódio, tenho vestígios pacíficos de um mar calmo e transparente, porque não se esconde com guerra o amor. Mesmo ao lume, fico frio. O fogo que arde da lenha não me aquece. Torra-me ainda mais este sentir frio e cálido. Labaredas acesas incendeiam a chuva invernosa, como se fosses ácido e combustível. Olho-te com tamanha cegueira que cego em ver outro alguém.