Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Cardilium

Cardilium

A impotência da modificação estrutural do desejo

O céu enegrecido de nuvens transparentes carregam formas baças que embaciam os olhos de saudade engrandecida. Os portões semicerrados escancaram uma alma seminua e assustada. Branda a impotência da modificação estrutural do desejo. Como eu gostaria de alterar a estrutura física do desejo, como se de uma molécula manietável se tratasse. Como seria o meu corpo se fosse um laboratório e lá eu pudesse decidir ou não este sentir. Vejo uma sala branca e iluminada, com tubos de ensaio e os meus órgãos em cima de uma bancada, mutáveis, numa transformação escolhida. Quero mudar de cor e experimentar ser negro, ter canção e ritmo e um novo soro a correr-me nas veias injectadas de vida, mais que morte outrora injectada. Quero experimentar pensar duas vezes sobre o mesmo assunto, antes da impulsividade de uma decisão adiada ou tomada. Escorreito deliciar-me com um novo oxigénio e uma nova fonte descoberta e límpida de pensamento. Depois vejo-me reconstruído, continuando imperfeito, que não é na perfeição que busco e acredito na verdade e felicidade. Vejo-me a voar no céu escolhido e a mergulhar no meu mar preferido, enroscado nos braços ausentes que tanto quero presentes. Abomino o ruído em prol de sons melodiosos que me embalem ao passar na floresta onde construirei a minha casa com cheiro a madeira e fogo. Dedilharei na minha viola uma canção escrita por mim, de uma vida que não vivi, de um conhecimento desconhecido aos outros, da minha inteireza rainha, feita do meu “eu” celebrado.