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Cardilium

Cardilium

A minha oração

Fica formosa a praia à noite salpicada de bóias florescentes dos pescadores junto à barraca do Abílio, aquele amigo que mesmo visto de tempos a tempos me faz sentir que o tempo não nos separa. Que me faz sentir que o tempo quando provido de conteúdo um dia, jamais será intemporal.  Regressei esta madrugada a este pedaço de mar moreno, onde a espuma se evapora na areia. Onde as ideias varridas de preconceito são incandescentes e os raios de luar e as estrelas de fogo no firmamento são inventadas e coloridas. Onde o passado é presente e as dores da privação antiga são recordadas. Onde é ardente e fogoso o meu desejo e o meu peito bate descomandado pelo descompasso das ideias. Descompensado e bruto jaz o areal debaixo do farol, que numa iluminada luz esclarece mar adentro num código em feixe de luz, que não me canso de observar. O mar, a noite, o céu e as nuvens confundem-se. Na madrugada não destrinço onde começa um e acaba outro. A lua de quando em vez irrompe iluminada. No céu as nuvens dançam empurradas pelo vento. Rezo para que os meus inimigos vivam felizes e de saúde longe do meu mar. Os meus amigos? Tenho-os ali na minha oração. Não crente, acredito nas sinergias que me invadem. Nasci para ser luz raiada de arco-íris. A poesia que me invade os poros é saborosa e coerente. Ao invés, multiplicam-se sensaboronas vozes que gritam ecos mudos de umas filosóficas questões, que não encerram nem empíricos conceitos, nem fundamentadas decisões. E assim me abato na minha oração.