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Cardilium

Cardilium

Acordei com um beijo suave na testa

Estremunhado e espreguiçado espreitei os raios violeta da alvorada que me iluminavam. Cegou-me uma luz estranha que me acordou. É como se um arauto me tivesse beijado suavemente a alma e me quisesse dizer qualquer coisa que a manhã desconfortava.

 

Terá sido um sonho?

 

Senti a fronte beijada suavemente e a minha mão tocada por Deus. Estranhava a paz do dia nascente, a harmonia, e o cheiro da terra. O assobiar do canavial monocórdico.

 

Os pássaros multicolores e as desconcórdias suavam-me a consonância e melodia. Pressenti a morte como continuação da vida e não tive medo, não queria adiar a chegada nem apressar a partida. As dores tinham desaparecido e somente o astrolábio do meu peito indicava a fé ausente da minha existência. Era como se um anjo me habitasse.

 

Não sei o que significa anjo. Sei que deriva do latim angelus e que de uma forma muito terrena o concebo como uma pessoa bondosa ou uma criancinha. Depois existem as figuras metafísicas de anjo que me arrepiam e até chocam. Figuras de ar cândido, papudas, celestiais e assexuadas a olho nu. Vistas mais profundamente vejo-as sexuadas, parte integrante de orgias e luxúria e de ar pálido doente e enfatizado.

 

Um anjo é uma alma. Não tem matéria é apenas espírito. Filosoficamente o anjo bom é o anjo da luz, da perfeição moral. O anjo mau é o anjo das trevas. É a distancia e o intervalo, entre uma alma perfeita e imperfeita. Um anjo é um mensageiro, nesta sociedade contemporânea os anjos das trevas são os fazedores de opinião, os mentecaptos e por aí fora. Os anjos da luz são os mensageiros da paz.

 

Acordei com um beijo suave na testa. Senti-o. Foi o meu Pai. Beijou-me a alma com o coração.