Sonhado e só...
Tomei banho e fiz-me à estrada. Atravessei os campos baptizados de lezíria. Estão revoltados do amanho e da apanha. São neste momento terra e água deitada. Há uns meses eram verde milho. Foram descamisados. Depois de passar o tempo a meio caminho além Tejo depois de descender o Riba Tejo, cheguei à lezíria habitada. Que bem me sabem estas milhas chuvosas e escuras, de uma noite trespassada por um cd velho e riscado, de musicas que cantarolo de cor. Esperavas-me. Subi além Tejo e fui contemplar o mar. Sentia na boca o sabor de umas amêijoas ácidas a limão. Senti uma acidulada vontade estomacal de ter os teus lábios por perto. Na colina feita de uma ravina escarpada, estende-se a minha praia velha e cheia como um vale furado. As músicas que ouvi até ao meu pedaço de mar abençoaram os elementos. A espuma salpicava a areia. O breu da noite era confortavelmente matizado de cactos esponjosos que tornavam o caminho macio. Abracei-te. Beijei a tua boca feita de lábios grossos e senti as pernas cederem. Não me apeteciam palavras nem coisa nenhuma. Apenas o escuro da minha praia, a chuva, o vento e o som do mar eram suficientes. Pensei em sítios e pessoas. Ao meio do dia o sol acordou-me. Não era sonho. Doíam-me as costas e tinha dificuldade em me mexer. Faltava pouco e fui. Como escolhi ir. Sozinho levando-te comigo.