Bradem as árvores na mansidão da terra,
os corvos sombreiam as pedras,
o ar quente trespassa o peito,
costas adentro o silêncio ruge austero,
os órgãos arrumam-se no corpo,
ganem até,
ganas dá-me ser estreito e apertado o caminho,
as silvas criam amoras,
os figos acabam nos torrões secos de setembro,
a água corre fina na fonte que teima em não secar,
o corpo foge do corpo,
o recanto fresco espera o anoitecer.
Senti dois sismos,
um na sexta-feira,
outro no sábado,
no domingo e pela escala de Richter não senti nenhum,
estava cansado,
descansava,
mas esta tarde voltei a sentir,
tremi por dentro,
abalei-me do peito,
mas não me importo,
desde que a emoção segure o abalo.
Solto os lábios,
sob estrelas cadentes,
bocas ausentes,
de beijos,
são desejo!
velho mar,
paciente,
em teu canto,
fico horas sem tempo,
em teus sois,
me aqueço de inverno,
em teu sal
deixo os meus olhos chorarem,
no teu leito,
adormeço o meu sonho.
Embora o tempo passe,
volta sempre a passar outra vez,
fica,
parte,
nasce,
ama,
dança,
espreita,
pede,
dá,
escuta,
diz,
parte e fica,
o tempo passa,
e nunca acaba.
Indelével,
em chaga,
incurável,
sem rasto,
com cheiro que se lhe reconhece,
sem pranto,
com choros,
sem gargalhadas,
com sorrisos,
abraços,
e marcas,
… que a marca ficou cá.
Qualquer instante deste caminho é soberbo,
a doçura das escarpas de laminas que se desfazem em cada olhar,
os pés dormentes,
o tempo anestesiado de uma esperança em que não acredito,
o vento por companhia,
os amigos que vieram visitar os amigos,
e eu por aqui,
entre mim e a minha semana de solidão de companhia anual.
Leio-te o horizonte nos olhos,
verde prado, domingo, noite,
a distância ao coração medida pelas veias vincadas nos braços,
a fresca terra ausente,
a cidade alvoraçada de calor,
as crianças adormecidas e transpiradas,
os gatos afastados do mundo,
e eu com o livro na mesma página desde manhã.
O terror do tempo sem tempo.
Tenho sorte em o mar estar lento, e o tempo desmoronar-se em mim como a música de todo o mundo que me seduz a ficar com mais um dia de memória colectiva, em todos estes anos adocicados de Julho.
Tenho sorte da cidade se fechar e a planície se abrir com o mar para mim.
Estou fantasiosamente apaixonado pela terra a que pertences,
pelas mãos das árvores que circundam o caminho onde te deixo,
até a luz do prédio se apagar.
Entraste-me em casa!