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Cardilium

Cardilium

É mais fácil para mim, viver assim, sem “saquinhos”

 

“... é mais fácil morrer, disse eu. Mais fácil do que crer nesta fé de hábito e batina, esta fé desgraçada e voluptuosa, irradiada de boas acções a cada dezembro, ano após ano, a cada dezembro frio e lembrado, esquecido em todos os outros meses de que se compõem.

 

É mais fácil morrer do que aceitar “o saquinho de plástico” que me doam, à porta do hipermercado onde compro pão e leite. Por norma, quem me dá “o saquinho”, tem um ar fantasioso de desgraçadinho ou beato, algo do género, não sei bem, uma coisa assim. É mais fácil morrer e é tão difícil decidir fazê-lo e, como o fazer.

 

É mais fácil encher o “saquinho” com latas, e pacotes, e garrafas, e sacos, e latas, e garrafas, e pacotes, e pacotes, e pacotes e entrega-lo à saída com ar fantasioso de bem-estar, ou ao invés, sair dignamente sabendo que a caridade e a maldade andam amantizadas e, que mesmo sendo mais fácil morrer, eu entrego o que tenho que entregar em mão própria, sem negócio ou ar fantasioso e perverso. Entrego em mão própria. Como me entregaram a mim.

 

É mais fácil para mim, viver assim, sem “saquinhos” … “