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Cardilium

Cardilium

de quem de nada ... tudo é

de nada tudo é feito, 

e feito de nada é a minha obra,

sem filhos que se lhe juntem,

mulheres que se recordem,

marés, madrugadas, arco-iris,

flores a perder de vista o olhar, 

livros rasgados e gastos de prazer,

ruídosos e vorazes desejos,

de quem de nada ... tudo é,

de quem já se ergueu da cova

 

 

 

 

 

Avalanche

avalanche de horas que me soterram,

chamam-lhe dias os positivistas;

chamam-lhe vida uns outros,

 

eu,

tento sair dos escombros ...

 

Fim

por fim,

os teus cabelos sossegaram-se na almofada,

o teu corpo já sem alma,

esperou pelo cangalheiro,

para que se alindasse,

e fosses devolvida,

à terra.

 

foi o dia mais saudoso,

a saudade antes de o ser sangrou,

como se já soubesse,

quanto pesa a dor,

armazenada de dor,

 

por fim,

todos os dias foram iguais,

desse para a frente. 

 

estranho e organizado caos

podia abrir-te todas as portas e as gavetas,

deixar-te rebuscar toda a minha vida,

ficares sabedora dos meus amores,

de todas as minhas dores,

de todos os meus caminhos,

os maus,

os bons

os meus.

 

podia abrir-te todos os meus pensamentos,

todos os meus desejos,

todos os sonhos por inventar,

todos os meus sonhos até por sonhar,

podia “ladainhar-te” todas as minhas preces,

todos os meus credos,

que mesmo assim,

me acharias o mais estranho e organizado caos.

 

podia abrir-te todas as janelas de mim,

deixar pousar os pássaros no parapeito,

que a felicidade seria voo,

sempre que o vento se agitasse,

as nuvens do céu se movessem,

e todas as melodias se calassem,

a cada descompasso,

em que o meu coração sobreviva.

A melancolia

“… A melancolia?

 

Essa triste alegria que me consola quando caminho entre os troncos grossos das árvores sobreviventes a todas estas noites de agonia.

 

Essa tristeza cálida e pura, que não me fere mais do que cada amanhecer que não desejo que seja novamente dia, mais um dia, outro dia.  

 

Toda essa gente que arranja nomes, questiona o desconhecimento, inventa soluções, adjectivos, teses psicomaníacas e ignorantes, somente pela necessidade ou desejo de uma proximidade que nunca poderá ser presença, essa gente que somatiza e acusa as palavras com que adornas o que sentes.

 

Esse escritor que se embriaga e aliena com essa sensibilidade maior do que o sentimento, que não se importa que não haja quem corte o vento e lhe leve o ar fresco da demanda que deseja.  

 

Que não se importa que não haja quem o veja.

 

Que se sustenta e compõe, com o que vê e sente.

 

A melancolia, essa triste alegria de alegoria permanente, perfilhada na verdade do pseudónimo abençoado, que me tem salvo todos estes anos, do bairro que já não existe …”

Vales de mar

" ..  Expatriada emocional foi a apátrida nacionalidade confiscada em menino.

 

Sem albergue que a liberdade tenha aperfilhado, mantem-se a ditadora expectativa abraçada ao pecado. 

 

A mãe ficou sem filho e o filho órfão de mãe, enquanto a vida se desfaz em dias irrecuperáveis, e certifica que em nome de deus se peca mais, do que em sacrilégio assumido se mata ou fere de intenções.

 

Incompreensível esta forma inadequada e castrada de amor. 

 

Ignorância emocional está pátria de nacionalidade adquirida.

 

Longe da terra de onde vim. Perto da terra de onde sou. Entre vales e mar de mares..." 

A mortalidade anônima da poesia

A mortalidade anônima da poesia.

 

 

Nao interessa quem disse ou mandou escrever tantas palavras embaladas pela música que cada um de nós lhes confere. 

 

Interessa o que cada palavra não diz.

O que cada sílaba desdiz.

O que cada fragmento reconstrói.

O que cada lágrima ri.

O que cada momento imortaliza  .........

 

- na mortalidade anônima da poesia - 

 

as cidades entardecidas pela horas

há cidades que sem nunca nos terem declamado um poema nos mergulham dentro delas,

e todas as suas praças, recantos, cheiros e flores são como,

os canteiros, os aromas, as esquinas, e as ruas da nossa terra renegada,

 

sim,

estou a falar de flores e de mar,

de aromas e de beijos, de desejo e recordação.

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