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Cardilium

Cardilium

Soltem-me de mim que a mim tenho direito

Soltem-me de mim que a mim tenho direito

Preciso mais do que ontem,
Preciso de hoje,
Quero o amanhã.

Não me amarrem os sonhos,
Nem os dias uns aos outros,
Solto brados de angustia,
De não saber,
De não sentir.

Tresloucado devaneio,
Palavras vãs articuladas,
Não desfaço os laços,
Não desprendo os nós,
Solto-me cego exultando pranto.

Não me amarrem mais os dias uns aos outros,
Soltem-me os sonhos,
Soltem-me de mim que a mim tenho direito.

Quando?!

Quando dentro de mim as certezas esbarram com as incertezas e o tempo me invade o olhar alterando-me o disfarce, tenho a resposta que procuro nas horas seguintes castrando a negação das evidências.

Quando me doem os ombros e coloco o meu olhar num lugar distante quase demente, existe dentro de mim os escombros que procuro para reconstruir, tenho a resposta em mim do que tento achar na distância do meu eu.

Quando me tento disfarçar trocando os sentidos, tenho dentro de mim o sinal obrigatório do sentido que careço e procuro.

Quando me exponho à verdade que sinto, aniquilo a verdade produzida que gerei.

De cada vez que me desconstruo avanço pedaços de vida em direcção a mim próprio e, sou mais eu em cada porção de mim mesmo.

De cada vez que me arrebato sinto as estações bailarem-me nos pulsos que ergo sem temor.

 

Arvore de pétalas

Já me cansa o peso das pernas na minha vida,

A expressão que sinto fugir de mim,

É indelével e rude.

 

Vi esta manhã a árvore que vejo todas as manhãs,

Em todas as anteriores manhãs reparei na árvore que vejo, em todas as manhãs.

 

Todas as manhãs contemplo a árvore e os meus lábios tocam nos teus,

Mesmo sendo todas as manhãs não me cansam,

Nem os teus lábios, nem a árvore,

E Todas as manhãs me presenteiam,

Com beijos de cheiro a pétalas,

Pétalas das flores que eu mais gosto.

 

Em todas as manhãs da minha vida,

Vejo a árvore, os teus lábios, e cheiro as pétalas da minha flor preferida.

 

Esta manhã vi a árvore que vejo em todas as manhãs.

Curvo amor arredondado

Amanhã é mais perigoso do que ontem,

O meu amor envelhecido não se actualiza ou prescreve,

O meu amor não é pensado ou preso em mim,

É solto,

Rebelde,

Alienado,

Impossível,

Essencial,

Profícuo.

 

Sou feliz no areal do passado,

Acendo um cigarro e ligo o rádio,

As notícias falam-me de ti.

A importância das reuniões na minha vida

A importância das reuniões na minha vida.

As reuniões na minha vida alteraram e voltaram a alterar o meu desígnio ou seja, aquilo para que fui concebido.
O meu caminho alterou-se com as reuniões. As familiares. As sociais. As de trabalho... e as profissionais, que são diferentes das de trabalho. As reuniões da “mesma linguagem. As do “mesmo sentir” que ambas não são as mesmas, ou iguais.

Confuso este caminho para mim escolhido e não escolhido por mim também. Preciso de começar a afunilar esta dependência das reuniões em forma de sobrevivência, tanto daquelas que me dão o salário, como das de manutenção. Jamais escolheria para mim uma vida de reuniões, mas tenho uma vida estupida cheia de reuniões, à média de meia dúzia por dia. Umas não deviam existir. Outras são um mal necessário. Outras são inevitáveis. Outras ainda já não são o que foram. Outras são em formato de “adoro ouvir-me”. Outras são, reuniões de reuniões.

Parca esta vida dependente de reunir com alguém, antes de me reunir comigo mesmo.

É estupida a importância das reuniões na minha vida.

Desimporto-me.

O que sobra ?

O que sobra ?

Do alto, a Berlenga desnudou-se num aceno antecipado de despedida. Os sóis violaram as nuvens rasgando-as. O mar espraiado acariciado de brilhos, agraciou a despedida com vida.

O que resta e o que sobra, é o respeito mesclado com saudade.

O coveiro tem na cara a cor da terra e as covas da vida. Os amigos têm a cor do céu, como os teus olhos emprestaram ao teu sorriso decifrado, momentos.

Não sei se existe uma última morada ou primeira, se existe por aí solta a liberdade de um adeus que vou partir, ou um ate já amigos.

Do alto deste morro sossego neste horizonte de luz. Abraço amigo.

A fidelidade das palavras

Vivemos mais a atraiçoar as palavras do que atraiçoados por elas.

 

Esquecemos todas as elaboradas formas com que nos debatemos, seja para atraiçoar, seja na forma mais usual, a de nos atraiçoarmos a nós mesmo. Este é o feitiço que as palavras possuem. Têm vida própria, são vivas, delicadas, rudes, fantasiosas e verdadeiras.

 

As palavras têm tempo e, esperam-nos na memória revivida da sua existência. As palavras deambulam, quase vagabundeiam, mas voltam sempre ao lugar onde pertencem. São actuais e prodigas, extenuantes e sensuais, mas rigorosamente pragmáticas. Voltam às nossas bocas solicitadas pelas noites e pelos dias, pela verdade e pela mentira, por deus e pelo diabo. Inconsequentes, esperam-nos como um juiz divino para se nos apresentarem em forma de pecado ou salvação, de penitência ou castigo.

 

As palavras têm cores e sabores, formas e musica no seu âmago. São hermafroditas, incoerentes, esperançosas, são lua, sol e mar.

 

As palavras são o código genético do nosso prolongamento sensorial. São mais sim do que não.

 

São mais eu, do que outra coisa qualquer.

Caminho infinito

Misturem-me flores e dividam-me,

Abram a minha gaveta dos sonhos e partilhem com o mundo todo,

Por inteiro,

Soltem-me o Universo da alma.

Porque é que se consomem assim estes dias parcos?

Embalo este pesar siamês,

Verbo,

Amor conjugado,

Voo,

Grito,

Poesia,

Tampam-se-me os olhos de água em cascata.

Excerto

Estas palavras caiadas de branco são tao pesadas.

 

Esta noite tenho uma força que me queima por dentro, como uma fogueira que me aquece para além das memórias…

 

- Abraça-me.

- Abraço-te sim.

 

Abraço-te com o fulgor da saudade e da fantasia. Guardo-te em mim e, antes do rasgar da madrugada devolvo-te. Devolvo-me rasgado de mim com a madrugada aconchegada de ti. Fundidos, vou abrir a janela da minha varanda para te ver, borboleta de raio de sol, terra fértil bordada de água, onde mergulho com prazer...

 

Sinto-te tão perto do meu abraço. Bate no meu peito uma vontade de voar para ti, deslizando nesta neve inventada pelo cantarolar do vento. A distância não pode separar que nunca se separou. A chuva confirmou-me. Adormeço sedento de um velho cheiro a ti recordado. 

 

Vou sacudir a poeira da alma e sonhar-te …

História da loucura premeditada

Retenho em mim esta poeira traçada de caminho, solta de um país pobre e esquecido. Entristecido. Degastado por desgastados pederastas. Cúmplices dos antecedidos. Colaborantes dos vindouros.

 

Vivo num país esquecido dele próprio.

 

Subjugado. Ignóbil e criminoso. Onde a escola já não ensina, os hospitais não tratam, e a justiça cegou.

 

Vivo num país que expulsa em catarse os seus demónios.

 

Onde choramos as lágrimas dos outros e as mágoas de todos, como se a individualidade não fosse personalidade.

 

Vivo num país não livre escravo da dívida da liberdade.

 

Vivo num país que não pensa e já sente pouco.

 

Vivo num país onde as forças para lutar já escasseiam. Onde escasseia sopa, crianças, fraternidade, ideias, vontade, arriscar, e Grândola.

 

Quero um país que arrisque. Quero que não sejam os mesmos sempre a arriscar.

 

Arrisco. Vou a jogo no escuro e, perdi.

 

Quase que parto … desta  loucura premeditada.

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